terça-feira, 10 de novembro de 2009

Ao longe

Acordo com aquela sensação estranha de que o mundo hoje me vai surpreender, dar-me algo de bom, palpável e de grande impacto para a minha paz interior.
Deito-me no sofá tentando imaginar o belo presente que está a ser embrulhado e que tem o meu nome por fora, ao lado de um fofo laço azul, brilhante.
De repente uma enorme mão rasga-me o peito tentando arrancar-me a gosma, as entranhas e o mau feitio. Tenta também sugar-me a inveja, o rancor e a tristeza que tenho agarrada às paredes do estômago. Desfaleço enquanto estou a ser purificado.
Acordo encharcado. É meio-dia. Sinto-me mais leve. A vida hoje não me parece tão dificil e traiçoeira, por isso decido tomar um banho e sair, observar o reflexo dos raios do sol nos cacos do que foi um espelho, em que sempre pensei ver-me com o sorriso da felicidade que jamais imaginei deixar de sentir. Avanço em busca da minha nova transparência reflectida.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O amendoim sem casca continua a ser melhor

São 6 da tarde, e o sol, ao longe, continua a querer brincar comigo, aparecendo e encondendo-se atrás da franja do chapéu de sol da esplanada. Sacana. Não posso ter um bocado de descanso.
A garrafa da cerveja que tenho na mão é igual a que se pode comprar em qualquer hipermercado, tara perdida, pouco tempo na produção, doce e sem nada a acrescentar ao meu palato. A temperatura também não está bem, a garrafa está gelada, o líquido nem por isso.
Observo as pessoas com ar de turista e vejo a sogra, a tia, o neto e a netinha, o pai carrancudo e a mãe a tentar não explodir, há ainda o tio que não aceita já ter 40 e a irmã mais nova, boa, disponível e disposta a voar. Esta gente toda não é da mesma família, mas ao cruzar a porta de um qualquer retail park deste nosso país, fica homogénea, funde-se numa enorme família que deixou de procurar o campo com ar puro, trocando-o pela loja com ar condicionado, arrumado, limpo e sem precisar de fazer farnel para o lanche, perdido no mato.
Olho de novo para ver se o sol já me largou. Foi. Eu fico. Apenas mais 10 minutos até me aperceber que tudo isto é triste, embora não se oiça o fado. Levanto-me. Enrolo um cigarro longe dos olhares das distintas e educadas personagens que vagueiam pelos nossos domingos. Acendo a ponta dentro de mim. Vou pra casa olhar o horizonte só meu e comer uns amendoins sem casca, porque não sujam e ocupam menos espaço no armário. Tudo arrumadinho, homogéneo e quase limpo. Como as nossas tristes vidinhas.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Esvoaçando

Voando na direcção da cratera do vulcão, encolho as pernas para abrandar um pouco.
Devia ter trazido um cachecol porque isto aqui em cima arrefece e já me começa a doer a garganta.
Observo com atenção o buraco negro que, lá em baixo, me convida para que nele entre.
Dou um grito para afastar os medos, e, esticando os braços passo para velocidade máxima, fechando os olhos e voando por entre os panos que me batem nas mãos e na cara. Cheira a amaciador.
Saio do meio da roupa que seca no estendal, ao sol, no terraço.
Se conseguir pôr mais uma máquina a lavar, com o vento que está, ainda seca até à noite.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Hi5 | Que estás a fazer agora?

11.Nov.2008
Cães e gatos a voar esborracham-se no pára-brisas do meu carro.
Não me posso esquecer, tenho que pôr água no mija-mija.


19.Nov.2008
Fluxos constantes de informação diversa tentam penetrar nos meus neurónios.
Estou a conseguir resistir.


02.Dez.2008
Milhares de crianças com a baba a pingar pelo canto da boca, tentam ganhar brinquedos para depois os poderem partir.
Quero ir para longe, muito longe.


27.Jan.2009
Observo gente desnorteada e pombos com stress a tentarem bicar uma beata de SG Gigante... A dependência é lixada...


03.Fev.2009
Estou a tentar parar rios de fluidos que brotam do fundo do meu eu...
Abençoadas águas do mar, analgésicos, antipiréticos, bagaço, mel e chá de limão.
Vivó tempo frio, mas na Gronelândia, não aqui.


04.Fev.2009
Vejo formigas poupadas e organizadas a tentar apanhar migalhitas do chão, enquanto a cigarra as observa, fumando um cigarro depois do almoço, que pagou com o dinheiro do rendimento mínimo... Viva Portugal!


09.Fev.2009
Vou a 160 Km/h na avenida. Os peões atravessam-se à minha frente e eu evito-os.
Mato 2 cães e 1 gato. Todos os veículos parecem estar parados.
Uma velha parada no meio da estrada faz-me perder o controlo do carro e bato numa árvore.
GAME OVER. Vou trocar mais 5 euros. Esta máquina ainda vai ser o meu fim...


18.Mar.09
Transpiro de nervos e desespero. Engulo e não saboreio. Bebo mas não degusto.
Conto dias, horas e coisas, que nada acrescentam à minha vida.


28.Mai.09
Observo o céu estrelado, embora saiba que a menina chegou por terra.
As garrafas de minis falam com o velho Parr.
Vidros vazios onde outrora houve vinho, trocam olhares. A azia é imensa.